sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

    AUTOPSICOGRAFIA


    Fernando Pessoa

    O poeta é um fingidor.

    E os que lêem o que escreve,
    Na dor lida sentem bem,

    E assim nas calhas de roda
    Gira, a entreter a razão,

    Esse comboio de corda
    Que se chama coração.

    Não as duas que ele teve,
    Mas só a que eles não têm.

    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente.

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