segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mar e rochedo

Gerson Sebastião de Souza


O mar castiga o rochedo dia após dia
com crueldade e constância só comparáveis
às do pior carrasco sádico.
O rochedo suporta resignadamente sua pena
(teria outra opção?).

Vez por outra, a violência é tanta
que o faz perder pedaços
e abrirem-se fendas na sua superfície.

O paradoxo está em como a água,
tão delicada e maleável,
pode afetar de modo drástico
a dureza fria do rochedo.

Como em todas as relações humanas
também aqui há a lei da compensação:
O mar, junto com cada onda,
Traz colônias de animais marinhos que
Fazem do rochedo sua casa,
Enfeitando-o com suas lindas carapaças calcárias.
Nas fendas formam-se aquários naturais
Onde peixes fazem dele um calmo abrigo
Até que a próxima maré alta os liberte.

Eu sou um rochedo.
Tenho sofrido muito.
Onde estão as vieiras e os outros mariscos?
O que é dos peixes-palhaço, dos caranguejos-eremitas?
Percebo que a minha dureza interior
Ressente-se enormemente da falta de um mar que me açoite.

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